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Ar Fresco

terça-feira, outubro 17, 2006

Segurança Social (I)

O novo sistema de segurança social contém, pelo menos, dois problemas para os quais ainda não vi propostas de resolução, quer por parte do Governo, quer por parte de propostas alternativas da oposição.

1 - Trabalhar até mais tarde

Hoje em dia já é comum ver anúncios de emprego, cuja idade máxima é normalmente os 35/40 anos (na melhor das hipóteses). Ora se um trabalhador tem o azar de cair no desemprego após os 40 anos, ser-lhe-á muito difícil encontrar um novo emprego, especialmente tendo em conta as habilitações académicas e formação que grande parte dos trabalhadores portugueses têm.

É ponto assente que temos de trabalhar mais tempo e que deveremos indexar a idade de trabalho ao crescimento da esperança de vida. A questão é: como convencer as empresas de que ainda vale a pena apostar num trabalhador com mais de 40 anos? Os incentivos fiscais são uma das medidas do Governo ( a redução da taxa de seg. social da entidade empregadora, respeitante ao trabalhador), mas isto é insuficiente e ineficaz - veja-se a este nível as medidas de incentivo à contratação de jovens à procura do primeiro emprego, trabalhadores com desemprego de longo prazo, etc...

2 - Investimento particular extra dos contribuintes

A ideia parece-me lógica, contudo neste problema há dois subproblemas: a) salários baixos e (muitas vezes simultaneamente) alto endividamento do sociedade portuguesa, sem margem para novas poupanças; b) falta de cultura de investimento/poupança dos portugueses - onde e como investir. Se o segundo subproblema se pode resolver recorrendo a uma instituição bancária (por exemplo), predominando o perfil de investimento conservador dos portugueses - apostas em PPRs, contas a prazo, aforros, etc.; já o primeiro problema não tem, a curto prazo, resolução, não se prevendo um boom da conjuntura económica e respectivo aumento considerável de salários. Resta apenas a muitos portugueses o aumento na percentagem a descontar, sendo que isso terá implicações directas na redução do rendimento mensal.

Concluindo, vamos ter de trabalhar até mais tarde e de poupar mais (mesmo considerando uma aplicação do Estado de uma parte das nossas contribuições em fundos de investimentos, ou qualquer outra ferramenta financeira). Mas também teremos de mudar a mentalidade das empresas, dos empresários no sentido de continuarem a apostar nos contribuintes para além dos 40 anos. É neste ponto que irá residir o sucesso deste ou de outro modelo de seg. social. Se falharmos, todos, aqui não vale a pena dizermos que teremos de trabalhar até aos 80, pois não haverá quem nos empregue.